O Natal na Polônia
18.09.2019
No Natal polonês, a magia toma conta das tradições
*** Carta do Papai Noel *** Vídeo do Papai Noel ***
Quando dizemos “Natal na Polônia”, geralmente pensamos em um “Natal Tradicional”. Mas realmente sabemos de onde vêm as tradições, como elas se desenvolveram e quantas delas restaram intactas até hoje? Ao contrário do que se crê popularmente, o Natal polonês simboliza inúmeros costumes e superstições que não eram associados em suas origens com a cristandade.
Os primeiros registros que mencionam celebração de Natal na Polônia datam de 25 de dezembro de 354. Este dia não foi escolhido por acaso. Teve-se a intenção de substituir uma outra festa eslava chamada Aniversário do Sol Invencível que visava celebrar o deus Mitra.
O Natal é chamado por vezes de A Grande Festa ou A Festa Nupcial. A palavra “nupcial” se refere a “núpcias”, um antigo costume matrimonial eslavo. O dia 25 de dezembro era celebrado como o dia das núpcias, até o Catolicismo pisar em solo polonês.
Hoje, o Natal é o dia que dá início ao ciclo de comemorações e missas relacionadas às tradições da igreja de louvor ao nascimento de Cristo. Elas iniciam no dia 25 de dezembro e duram até a Epifania do Senhor, ou Dia de Reis, em 6 de janeiro. Na maioria das casas na Polônia, as festividades já começam informalmente no 6 de dezembro, vez que crianças ansiosas esperam por seus presentes trazidos por Papai Noel e deixadas sob a árvore de natal.
No passado, o Natal na Polônia era um evento significativo a ponto de as preparações começarem ainda no verão (entre os meses de junho a setembro). As pessoas colhiam cogumelos nas florestas das redondezas e frutas nos pomares para secá-los a tempo até o inverno. Elas também estocavam mel, farinha, nozes, arenques, bem como carnes de caça. Uma vez que era estritamente proibido seguir com qualquer atividade doméstica na Véspera de Natal, todo o trabalho tinha que ser completado até o dia anterior. No dia 23 de dezembro, pescadores saíam para pescar nos primeiros raios de sol. Funcionários de família abastadas e donas de casa de famílias mais humildes acompanhadas de suas filhas preparavam os pratos para o dia seguinte.
Os preparativos das festas também tinham um aspecto espiritual. Durante o Advento, uma missa chamada de “rorate” era realizada todas as manhãs. De acordo com as lendas, o Advento costumava começar mais cedo, no 11 de novembro, o dia de São Martin. Esta data era peculiar também devido a questões financeiras, taxas e outras cobranças que tinham que ser cumpridas e pagas neste dia. Para muitos, este dia era o último dia do ano velho. Após 30 de novembro, todas as formas de entretenimento tinham chegado ao fim.
Vamos dar uma olhada na família tradicional polonesa. O que vemos naquela primeira imagem? A agitação cotidiana. Pessoas atarefadas com a limpeza e a preparação das comidas. Surpreendentemente, o que não encontraremos é a Árvore de Natal! O hábito de decorar Árvores de Natal só apareceu em solo polonês entre os séculos XVIII e XIX. A tradição polonesa incluía decorar os cantos da sala com molhos de palha, especialmente na sala onde ocorreria a celebração da Véspera de Natal. Em algumas casas, as pessoas pegavam alguns fios de palha e as envolviam em arvores frutíferas no pomar para garantir uma boa colheita no próximo ano. Inicialmente, este costume era praticado por todas as classes sociais na Polônia. Com o tempo, começou a desaparecer até que finalmente só foi mantida entre os camponeses de classes mais baixas.
Apesar de sua religiosidade, os poloneses acreditavam que a Véspera de Natal, e algumas vezes também entre o ano velho e o novo, os fantasmas dos membros da família já falecidos iam visitar suas famílias. Você já deve ter ouvido falar sobre deixar uma mesa posta adicional durante a véspera de Natal, não? De fato, nossos antepassados realmente acreditavam que aqueles conjuntos vazios (ou conjunto, dependendo da família) seria ocupado pelos familiares já falecidos. Era de bom tom soprar na cadeira antes de sentar-se nela, a fim de garantir que ninguém se sentaria acidentalmente no espírito. Algumas coisas ainda eram proibidas na Véspera de Natal, incluindo tarefas domésticas, cortar madeira, cozinhar e costurar. Tudo isso era para proteger os fantasmas presentes em casa de se machucarem involuntariamente. Os convidados invisíveis também recebiam um wafer em seus pratos.
No entanto, garantir um ano de prosperidade para uma família não era fácil e requeria muitos feitos. Por exemplo, tinha que se ter um número par de pessoas à mesa. Se não fosse o caso, o azar era inevitável, e se fossem treze participantes na ceia, qualquer chance de prosperidade estava perdida. Famílias abastadas convidavam seus empregados para sentarem-se à mesa a fim de alcançar o número par requisitado. Um item de ferro, como uma foice ou um machado, tinha que estar embaixo da mesa, para que os convidados colocassem seus pés em cima. Era uma garantia de espantar a má sorte. Alguns textos literários sugerem que o ferro era considerado o símbolo de “pernas fortes” e os convidados se protegeriam, portanto, de serem machucados por espinheiros. Na região de Podhale também havia um costume interessante: o anfitrião quebrava um wafer, colocava nele o nome de um membro da família, mergulhava-o em mel e o colava na janela. O significado deste ritual, no entanto, não era muito agradável, pois se a bolacha caísse rapidamente, era esperado que o familiar em questão morresse num futuro próximo.
A manhã de 25 de dezembro era cheia de ordens e proibições. De acordo com a lendas, as mulheres não podiam visitar outras famílias pela manhã, vez que se acreditava que atrairia má-sorte. Curiosamente, o aspecto negativo da superstição não recaía sobre os homens, pelo contrário! A chegada de um homem à casa anunciava prosperidade à família.
Enquanto alguns preparavam a ceia noturna, cantores de corais natalinos – jovens garotos – iam de porta em porta cantando coros de Natal. Isto também era uma oportunidade perfeita de apresentar-se à futura esposa. De acordo com as fontes escritas, especialmente neste dia as donzelas (as jovens não casadas) tinham que manter suas casas limpas, pois era um sinal de suas habilidades de futuras donas de casa.
E os cantores de cânticos natalinos na Polônia de antigamente cantavam as mesmas músicas dos poloneses de hoje? A palavra “kolęda” (“cânticos de Natal”) origina-se para palavra latina “calendae”, que significa “o primeiro dia de todo mês”. Na Polônia, o nome “cânticos natalinos” não se aplicava a músicas religiosas, mas a músicas de Ano Novo. Cânticos natalinos religiosos, que eram derivações de hinos medievais latinos, foram disseminados na Europa por famílias franciscanas. Segundo as lendas, a primeira canção natalina foi criada por São Francisco. Lendas polonesas mencionam “Anioł pasterzom mówił” (“O anjo disse aos pastores”), “Zdraw bądź królu anielski” (“Seja são, anjo rei”) ou “W żłobie leży” (“Ele está deitado no berço”) – todas escritas por Piotr Skarga. As músicas que conhecemos atualmente datam do século XVIII. Elas incluem peças como: “Jezus malusieńki” (“O pequeno Jesus”), “Bóg się rodzi” (“Deus está nascendo”) bem como “Gdy śliczna Panna” (“Como a Bela Virgem”). Além disso, as canções de Natal tradicionais, um outro tipo de músicas – pastoris – eram bastante populares. Elas eram canções natalinas enérgicas, cheias de melodias que se referiam à vida cotidiana e eram escritas no dialeto coloquial local.
A palavra polonesa para Véspera de Natal – “Wigilia” – tem a origem latina e “vigilare” significa “vigiar”, enquanto que “vigilia” significa “vigília” (guarda noturna). Os costumes de Véspera de Natal derivam das celebrações pré-cristãs do solstício de inverno. A magia da véspera de Natal aparece em diversas formas. Aparentemente, animais falavam como humanos (infelizmente, as notícias que eles traziam não eram boas, uma vez que eles informariam as pessoas sobre o dia de suas mortes), flores se abriam sob a neve (lendas mencionam a flor de samambaia que se abriria e brilharia à meia noite), folhas verdes nasceriam em árvores por um momento, águas em rios e poços se transformariam em mel ou vinho e o chão se tremeria e revelaria tesouros escondidos.
Quais eram as superstições cruciais neste dia? Deitar-se não era permitido, mesmo no caso dos doentes e fracos, pois significaria que uma doença ainda pior chegaria. Como um antigo ditado diz: “O ano inteiro acontecerá após este dia”. Outra proibição incluía cuspir no chão, derramar água da louça, moer grãos, girar em uma roda giratória, enquanto objetos pontiagudos como facas, tesouras e agulhas só podiam ser usados em situações urgente e específicas – eles poderiam machucar os fantasmas dos ancestrais que vagavam pela casa! Este dia também seria livre de brigas e disputas, bem como de preocupações. Em algumas partes da Polônia, crianças tinham que correr ao redor da casa três vezes vestindo apenas uma camisa; assim supunha-se fortalecê-las e preveni-las de doenças. Aqueles que desejavam manter a saúde e a beleza deveriam lavar-se em uma bacia de água fria com moedas de prata ao fundo. Pedir alguma coisa emprestado era estritamente proibido, pois significava escassez no ano vindouro.
Fora da janela, estava escurecia lentamente. A família se reunia para sentar-se à mesa posta e curtirem a reunião familiar à espera da primeira estrela aparecer no céu. Assim que ela aparecesse, os pais iam até a frente da casa com um wafer no prato. Cada membro da família, incluindo os empregados, compartilhava o biscoito entre si e desejavam Feliz Natal aos presentes. Um dos requisitos da ceia é que ninguém sentar-se-ia à mesa se estivesse em desacordo com alguém. Até mesmo a grandes inimigos era pedido pelo anfitrião para que se dessem as mãos e perdoassem um ao outro. Um famoso jogo consistia em puxar uma palha debaixo da toalha de mesa. Se uma mulher puxasse uma palha verde, ela teria um casamento em breve. Se a palha fosse amarela, ela deveria esperar um pouco mais pelo pedido de casamento. Uma palha seca anunciava que a moça seria solteira. Durante a ceia, todos tinham que provar cada um dos doze pratos, para que assim “nenhum prazer da vida passe por ele ou ela”.
Os poloneses também praticavam jejum, que se iniciava ao amanhecer e durava até a chegada da primeira estrela. Comer carne também era proibido neste dia. Uma família tradicional compartilhava um wafer pela manhã, enquanto a dona de casa entregava uma fatia de pão a todos da casa.
Voltando aos pratos tradicionais, vale a pena mencionar que as mesas, belamente decoradas com zimbro (fruto pequeno e carnoso), eram abundantes em comida, e não era qualquer comida! Biscoitos de gengibre, conhecidos como “katarzynki” (biscoite de gengibre de Catherine), feito com mel e cheio de ervas e temperos tornou-se popular ainda no século XIII. Muitas lendas dizem que três sopas tinham que ser servidas à mesa – sopa de amêndoa, borscht (uma sopa de beterraba) com bolinhos e sopa de cogumelos com arenque. Os empregados comiam Kutia (pudim doce de grãos) e os membros da família comiam anéis de rabanete, carpa, peixe pike com açafrão, bolos com mel e sementes de papoula, perca em azeite de oliva e ovos picados. As crianças esperavam ansiosamente pelo strudel recheado de frutas, como cerejas e pêras, enquanto adultos esperavam pelo patê de massa com fígado de peixe (“chucherki”). Pratos que hoje são considerados tradicionais na Polônia, como a sopa de centeio azedo e bigos, não vieram de solo polonês, mas de alemão. Bem como o pierogi (bolinho polonês) chegou à Polônia da Hungria. Pratos com sementes de papoula, que também tinham um significado mágico, era um elemento que não podia faltar. Strudels com sementes de papoula, leite de papoula e outros produtos não eram apenas um prazer para o paladar, mas era servido também com o propósito de conectar o mundo dos vivos com o dos mortos. Era acreditado que, uma vez que as sementes de papoula causavam sono profundo e quem dorme está no submundo, a pessoa teria acesso a ele.
A tradição requeria que todo cultivo de alimentos realizado em solo polonês devia ser servido à mesa. Do campo – pratos à base de farinha; do pomar – frutas e nozes; do jardim – vegetais; da floresta – cogumelos e frutinhas; por fim da água – peixe. Além disso, palha deveria ser colocado por baixo da toalha de mesa. Os grãos eram sem dúvida o principal e mais crucial símbolo de Natal – uma referência à manjedoura.
Após a ceia, toda família ia à igreja para a missa de Natal da meia noite para finalizar a Véspera de Natal e começar o ano seguinte em paz.
Qual é o lugar do Papai Noel na história?
De acordo com muitas lendas, Papai Noel (São Nicolau) era o bispo da cidade de Myra. Ele era um modelo de religiosidade e misericórdia. Suas raízes remontam ao império romano do século IV d.C. Em sua juventude, ele teria dado esmolas àqueles em necessidade e ajudado os pobres. Lendas sobre o Nicolau o tornaram patrono de marinheiros, monges, estudantes, estudantes em prova, bem como de jovens mulheres não casadas. Na cultura da Polônia, só recentemente São Nicolau se tornou conhecido como um grande amigo das crianças, que as recompensa pelos bons atos. A maioria das pessoas reconhece a figura de São Nicolau sem sombra de dúvidas, e as crianças não poderiam pensar o Natal sem ele. Vale mencionar que o calendário de advento e a contagem regressiva do Natal se tornaram populares também devido a Papai Noel. De fato, o calendário do Advento acontece em formatos diferentes em diversos países, por exemplo, na Alemanha funciona como quatro velas de Natal. Mas seu efeito mais atual é principalmente a popularização e comercialização do Natal.